Agradecendo um Presente
Autor: José Hipólito da Fônseca Filho
Publicado dia 28 de Setembro de 2003

Agradecendo um Presente

Está crônica foi publicada originalmente no jornal "A Voz de Goiana - PE" no dia 2 de Dezembro de 1974.

O ano passado, ganhei um presente magnífico. Recebi-o justamente quando aproveitando as férias, organizava meu arquivo relendo e selecionando revistas, jornais, cartas, etc... Foram quatro exemplares do jornal estudantil "O Grongonzo", que era editado por ocasião da tradicional festa do estudante. Editados nos fins da década de 50, refletem a animação e conviadam o povo a prestigiar um dos maiores acontecimentos sociais daquele burgo: "A Festa do Estudante de São Bento do Una". Festa que pelo seu brilhantismo, atraia gente até da capital. O nome Gronzongo relacionava-se com uma serra daquela gleba. Serra famosa pelas suas cobras que faziam as pessoas ameçadas invocarem a proteção de São Bento. Daí o nome da cidade ao qual foi acrescentado "do Una", visto que o rio Una nasce naquelas plagas.

Li avidamente aqueles exemplares. Através da leitura tive um reecontro comigo mesmo. Enchi-me de orgulho e dos meu olhos brotaram lágrimas de saudades daqueles tempos. Revivi minha vida de estudante secundarista. As crônicas dos estudantes (meus contemporâneos) agitaram meu sistema emocional e remexi a memória cantando fatos dos meus primeiros anos. Da minha infância de menino pobre que por ocasião do Natal, implorava a Papai Noel uma bicicletal. Meu desejo nunca fora satisfeito. Contentava-me em dar um passeio no carrosel de Odilon, em sentir o cheiro das maças vindas do Recife, comer bolinhos de goma, apreciar pastoris, observar de longe o jogo das roletas, ouvir as retretas e antes de dormir, tomar a gasosa. Da infância de uma criança que em tenra idade sofrera um duro golpe: a morte de sua mãe. Da infância de um garoto que hoje é adulto, nunca pensou em decantá-la em versos, a exemplo de Cassimiro, mas no momento, tem vontade de lembrar com uma saudade tão imensa que anula todas as lembranças de decepções sofridas. Nas histórias pitorescas ali narradas pelos estudantes, estabeleço correlações com as que me são transmitidas por José Nilson sobre o humor goianense.

Após a leitura, não me contive. Aproveitando as paginas desse jornal, peco venia aos goianenses para, sem rasgos literários, dizer algo sobre a minha terra. São Bento do Una é uma cidade que dista cerca de 200 km do Recife. Apertada entre rodovias estaduais, não se beneficia do asfalto, o que impede rapidez nas comunicações e a disposição de seus filhos em visitá-la mais frequentemente.

A cidade tem a sua origem numa fazenda, a fazenda Santa Cruz. Daí ter a sua economia inicialmente baseada na pecuária e na agricultura. O excelente gado holândes, o leite e seus derivados, as vacas Pepita e Marta Rocha, dententoras de vários prêmios em exposições nordestinas, tudo isso nos enchia de orgulho e levavam bem longe o nome da nossa querida terra. Apesar de não ser hoje a maior bacia leiteira de Pernambuco, é uma grande fornecedora de leite para a CILPE. Atualmente é o maior produtor de ovos do Nordeste, abastecendo o mercade de Pernambuco e parte de outros estados.

São Bento do Una é também centenária e antes já era centenária a sua banda de música: a Santa Cecília. Não estacionou. Tem seu Ginásio Estadual, seu Banco do Brasil, seu Mercado Público, Cooperativa Agrícola, Telefone, Cinema etc... Mas São Bento é também seus filhos ilustres. É Gilvan Lemos, seu escritor festejado pela crítica do Sul. É seus poetas, nas pessoas de Geraldo Valença e José Maria Cerqueira. É Dione Olveira, Miss Pernambuco 1959 e vice Miss Brasil. É Lívio Valença, médico e deputado, uma das maiores figuras humanas que pelo seu trabalho e dedicação tornou-se um missionário da medicina, além de parlamentar admirado pelos seus colegas de Assembléia. É Clovis Paiva, oftalmologista de renome mundial. É Antônio Porto, ex-prefeito, que pela sua honradez e eficácia administrativa vive no coração daquela gente. É Osvaldo Maciel, igualmente ex-prefeito, que na vida privada se comportava como um homen público, atendendo e prestando favores a quem o procurava. É José Mota, a propria vida e animação da cidade. É tanta gente a dinamizar aquele torrão, que passaríamos a vida inteira a citar. Mas, São Bento é também sinônimo de hospitalidade, o que pude compravar pela boca de alguns goianenses que levados até ali por Zô de Condado, voltaram encantados com a irmandade daquele povo. Talvez, ao encerrar estas linhas, eu não queira apenas provas como me sensibilizei com aquele presente, mas também dizer a São Bento que Goiana, acolhendo um filho seu, anda lhe permite por paradoxal que pareça, que ele se console chorando as saudades de sua terra.

José Hipólito da Fônseca Filho
2 de Dezembro de 1974


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