Sempre Haverá Uma Esperança
Autor: Aguinaldo Morais Valença
Publicado dia 19 de Outubro de 2003

Sempre Haverá Uma Esperança

Entre o gosto e o desgosto
O quadro é bem diferente,
Ser moço é ser sol nascente
Ser velho é ser um sol posto,
Pelas rugas do meu rosto
O que fui hoje não sou,
Ontem estive hoje não estou,
Que o sol a nascer fulgura,
Mas, ao se por deixa escura
A parte que iluminou.

            (Lourival Batista Patriota)

Prestar-se-ia muito bem o sentido lato deste verso, dito há muitos anos, para se estabelecer uma correlação entre o novo e o velho na nossa sociedade atual. O verso citado, foi dito de improviso numa cantoria de viola pelo saudoso Lourival Batista Patriota, o Louro do Pajeú, também conhecido nacionalmente, como o rei dos trocadilhos. Embora sem grande instrução, era dotado de uma inteligência rara que merece reverência nossa. A esta altura, falar dessa figura, cairia na armadilha de prestar-lhe uma homenagem póstuma o que é contra meus princípios. Sou da opinião que homenagem, deve ser prestada em vida e não, após a morte apenas para satisfazer o ego da sociedade que só se lembrará do homenageado, em quanto durar a homenagem. Como o mesmo criou este verso num repente, em resposta a um mote que lhe dera uma pessoa em tom de brincadeira para ser glosado, é que vai permanecer o enigma para sempre. Será que ele pensou na amplitude do seu sentido ? Ou já seria uma defesa prévia ao pejo imposto pelo ser humano, principalmente nós brasileiros, que não tivemos o preparo educacional suficiente em prol da preservação do mais importante manancial cultural que dispomos e que nos ensinou durante nossa existência, que são os nossos velhos? Quando somos moços, em pleno vigor das nossas forças, seja física, mental ou intelectual, pensamos, vivemos e corremos em busca da conquista de coisas materiais. Lutamos de corpo e alma para conseguí-las sem ao menos nos questionarmos para que ou o por que. Ficamos tão obcecados para atingirmos um objetivo que só olhamos para frente, deixando de viver o presente e sem tempo de olhar para os lados e enxergar coisas ou pessoas que por certo nos dariam muito mais prazer e felicidade. Achamos que ter sucesso é tudo na vida.

Mas, para que tê-lo e não ter com quem compartilhá-lo ? Somos comparados a um sol nascente e fulgurante, onde todos devem girar em torno da nossa órbita. Esquecemos que as coisas que transmitimos como sabedoria autodidática, foram adquiridas de outrem , na maioria das vezes muito mais antigo e mais sábio que nós. Nos armamos de sentimentos arrogantes e aos poucos vamos esquecendo e abandonando esses sábios, deixando-os a mercê de uma sociedade egoísta que criamos ao longo do tempo e que carece de conserto urgente. Pensamos que nunca chegaremos à velhice, que sempre seremos novos e gozaremos de boa saúde eternamente. Nunca estamos preparados para enfrentar as intempéries naturais de todos os seres vivos do planeta. Jamais admitiremos as conseqüências da solidão. Imaginamos que sempre iremos realizar as coisas que sempre fizemos. Não nos preparamos para enfrentar o abandono dos amigos e dos familiares. A cultura que adquirimos durante toda vida, é superada pela tecnologia, pela informação rápida e será ignorada em pouco tempo. Dessa forma iremos sendo relegados ao esquecimento. A sociedade que desconhece a sua história, não poderá se lembrar por muito tempo, do seu semelhante envelhecido, salvo se cumprido o recente estatuto do idoso. Ficamos muito contentes, orgulhosos e com muito gosto de sermos profissionais de sucesso, reconhecidos, admirados e invejados nos meios em que vivemos e atuamos. Porem, ao vermos as luzes que ajudamos acender, irem aos poucos se apagando, isso nos causa desgosto e faz criar rugas pelo rosto. PENSE NISSO ! Comece a fazer a sua parte no dia das crianças.


Aguinaldo Morais Valença
Rio de Janeiro, 12 de outubro de 2003


Artigos anteriores:

25/05/2011 - O Gronsúvio
03/06/2008 - Um Contador De Histórias
09/05/2004 - O incrível Zé Mota
22/02/2004 - O Cego Que Viu
08/02/2004 - Poemas: O Tempo e Libertação
08/02/2004 - Critica: Sebastião Cintra, um lírico telúrico.
19/10/2003 - Sempre Haverá Uma Esperança
28/09/2003 - Agradecendo um Presente
14/09/2003 - A Catedral
17/08/2003 - Clínica de Fisioterapia
10/08/2003 - Poema: Minha Terra Natal
02/08/2003 - Informações


©2003-2024 - Portal São Bento do Una